Vazamento do Google revela o funcionamento interno do algoritmo de classificação

Polêmica na comunidade de SEO, os documentos do vazamento sugerem que as métricas de engajamento do usuário influenciam as classificações, contradizendo declarações anteriores.

Publicado em: 31 de maio de 2024
Atualizado em: 4 de junho de 2024

No dia 28 de maio, um aparente vazamento da documentação de API do Google revelou mais de 14 mil variáveis sobre como o algoritmo coleta, armazena e utiliza dados sobre páginas na pesquisa orgânica. 

O vazamento provocou um intenso debate na comunidade de SEO, com alguns afirmando que isso prova a desonestidade do Google e outros pedindo cautela na interpretação das informações.

À medida que o setor lida com as alegações, um exame equilibrado das declarações do Google e das perspectivas dos especialistas em SEO é fundamental para entender o panorama geral.

Documentos vazados X declarações do Google

Ao longo dos anos, o Google tem mantido consistentemente que sinais de classificação específicos, como dados de cliques e métricas de engajamento do usuário, não são usados diretamente em seus algoritmos de pesquisa.

Em declarações públicas e entrevistas, os representantes do Google enfatizaram a importância da relevância, da qualidade e da experiência do usuário, negando o uso de métricas específicas, como taxas de cliques ou taxas de rejeição, como fatores relacionados à classificação.

No entanto, a documentação da API que vazou parece contradizer essas declarações.

Ela contém referências a recursos como “goodClicks”, “badClicks”, “lastLongestClicks”, impressões e cliques de unicórnio*, vinculados a sistemas chamados Navboost e Glue, que o vice-presidente do Google, Pandu Nayak, confirmou em depoimento ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que fazem parte dos sistemas de classificação do Google.

*Obs.: "Cliques de unicórnio" é uma expressão popular no marketing digital para descrever os cliques de publicidade digital que são raros e valiosos, assim como um unicórnio. Basicamente, são cliques que resultam em um grande impacto, como uma taxa de conversão muito alta ou um retorno sobre investimento (ROI) muito alto.

A documentação também alega que o Google calcula várias métricas usando dados do navegador Chrome em páginas individuais e domínios inteiros, sugerindo que o fluxo de cliques completo dos usuários do Chrome seja aproveitado para influenciar as classificações de pesquisa.

Isso contradiz as declarações anteriores do Google de que os dados do Chrome não são usados para pesquisas orgânicas.

Origem e autenticidade do vazamento

Erfan Azimi, CEO da agência de marketing digital EA Eagle Digital, alega que obteve os documentos e os compartilhou com Rand Fishkin e Mike King.

Azimi alega ter conversado com ex-funcionários da Pesquisa Google que confirmaram a autenticidade das informações, mas se recusaram a se manifestar devido à sensibilidade da situação.

Embora as origens do vazamento permaneçam um tanto ambíguas, vários ex-Googlers que analisaram os documentos afirmaram que eles parecem legítimos.

No entanto, sem a confirmação direta do Google, a autenticidade das informações vazadas ainda é discutível. O Google ainda não comentou publicamente sobre o vazamento.

É importante observar que, de acordo com o artigo de Fishkin, nenhum dos ex-Googlers confirmou que os dados vazados eram do Google. Apenas que eles parecem ter se originado dentro do Google.

Notícias relacionadas: Google valida vazamento, mas aponta falta de contexto aos dados

O que o vazamento do Google revelou?

Muitos na comunidade de SEO há muito tempo suspeitam que as declarações públicas do Google não contam toda a história. O vazamento da documentação da API apenas alimentou essas suspeitas.

Fishkin e King argumentam que, se as informações forem precisas, elas poderão ter implicações significativas para as estratégias de SEO e para a otimização da pesquisa em sites.

As principais conclusões de sua análise incluem:

  • O Navboost e o uso de cliques, CTR, cliques longos X curtos e dados de usuários do Chrome parecem estar entre os sinais de classificação mais poderosos do Google;
  • O Google emprega listas de segurança para tópicos sensíveis como Covid-19, eleições e viagens para controlar quais sites aparecem;
  • O Google usa o feedback e as classificações dos avaliadores de qualidade em seus sistemas de classificação, não apenas como um conjunto de treinamento;
  • Os dados de cliques influenciam a forma como o Google pondera os links para fins de classificação;
  • Fatores clássicos de classificação, como PageRank e texto âncora, estão perdendo influência em comparação com sinais mais centrados no usuário;
  • Construir uma marca e gerar demanda de pesquisa é mais importante do que nunca para o sucesso do SEO.

Resumindo: além de links e cliques, a classificação no Google também está relacionada a marca, autoridade de domínio, autoria dos conteúdos (ou seja, se o autor possui as especificações necessárias para escrever sobre determinado assunto) e dados do Chrome.

No entanto, o fato de algo ser mencionado na documentação da API não significa que esteja sendo usado para classificar os resultados de pesquisa.

Outros especialistas do setor recomendam cautela ao interpretar os documentos vazados.

Eles apontam que o Google pode usar as informações para fins de teste ou aplicá-las apenas a verticais de pesquisa específicas, em vez de usá-las como sinais de classificação ativos.

Há também questões em aberto sobre o peso desses sinais em comparação com outros fatores de classificação. O vazamento não fornece o contexto completo nem os detalhes do algoritmo.

Perguntas não respondidas

Como a comunidade de SEO continua a analisar os documentos vazados, muitas perguntas ainda precisam ser respondidas.

Sem a confirmação oficial do Google, a autenticidade e o contexto das informações ainda são motivo de debate.

As principais perguntas em aberto incluem:

  • Quanto desses dados documentados é usado ativamente para classificar os resultados de pesquisa?
  • Qual é o peso relativo e a importância desses sinais em comparação com outros fatores de classificação?
  • Como evoluíram os sistemas do Google e o uso desses dados?
  • O Google mudará sua mensagem pública e será mais transparente quanto ao uso de dados comportamentais?

Como o debate em torno do vazamento continua, é aconselhável abordar as informações com uma mentalidade equilibrada e objetiva.

Por enquanto, ainda não é possível aceitar inquestionavelmente o vazamento como verdade absoluta nem descartá-lo completamente.

Possíveis implicações para estratégias de SEO

Embora as implicações completas permaneçam desconhecidas, aqui está o que podemos extrair das informações vazadas por agora.

1. Ênfase nas métricas de engajamento do usuário

Se os dados de cliques e as métricas de engajamento do usuário forem fatores diretos de classificação, como sugerem os documentos vazados, isso poderá dar maior ênfase à otimização dessas métricas.

Isso significa criar títulos e meta descrições atraentes para aumentar as taxas de cliques, garantir carregamentos rápidos de páginas e navegação intuitiva para reduzir as rejeições e criar links estratégicos para manter os usuários envolvidos no seu site.

Direcionar o tráfego por meio de outros canais, como redes sociais e e-mail marketing, também pode ajudar a gerar sinais positivos de engajamento.

O Google tem enfatizado consistentemente a importância da qualidade e da relevância em suas declarações públicas e, com base nas informações vazadas, esse provavelmente continuará sendo o foco principal. A otimização do engajamento deve apoiar e aprimorar o conteúdo de qualidade, e não substituí-lo.

2. Possíveis mudanças nas estratégias de link building

Os documentos que vazaram contêm informações sobre como o Google trata os diferentes tipos de links e seu impacto nas classificações de pesquisa.

Isso inclui detalhes sobre o uso de texto âncora, a classificação de links em diferentes níveis de qualidade com base no tráfego para a página de link e a possibilidade de os links serem ignorados ou rebaixados com base em vários fatores de spam.

Se essas informações forem precisas, elas poderão influenciar a forma como os profissionais de SEO abordam o link building e os tipos de links que eles priorizam.

Os links que geram cliques reais podem ter mais peso do que os links em páginas raramente visitadas.

Os fundamentos de um bom link building ainda se aplicam: criar conteúdo digno de link, construir relacionamentos genuínos e buscar links naturais e editorialmente posicionados que gerem tráfego qualificado.

As informações vazadas não alteram essa abordagem central, mas oferecem algumas nuances adicionais que devem ser consideradas.

3. Maior foco na construção da marca e no aumento da demanda de pesquisa

Os documentos vazados sugerem que o Google usa sinais relacionados à marca e popularidade off-line como fatores de classificação. Isso pode incluir métricas como menções à marca, pesquisas pelo nome da marca e autoridade geral da marca.

Como resultado, as estratégias de SEO podem enfatizar o desenvolvimento do conhecimento e da autoridade da marca por meio de canais on-line e off-line.

As táticas podem incluir:

  • Garantir menções à marca e links de fontes de mídia confiáveis por meio de estratégias de digital PR (também conhecido como assessoria de imprensa digital);
  • Investir em relações públicas tradicionais, publicidade e patrocínios para aumentar o conhecimento da marca;
  • Incentivar pesquisas de marca por meio de outros canais de marketing;
  • Otimizar para obter volumes de pesquisa mais altos para sua marca em comparação com palavras-chave sem marca;
  • Criar comunidades de mídia social engajadas em torno da sua marca;
  • Estabelecer liderança de pensamento por meio de pesquisas originais, dados e contribuições do setor.

A ideia é tornar a sua marca sinônimo do seu nicho e criar um público que o procure diretamente. Quanto mais as pessoas pesquisarem e se envolverem com sua marca, mais fortes serão esses sinais de marca nos sistemas do Google.

4. Adaptação a fatores de classificação específicos de verticais

Algumas informações que vazaram sugerem que o Google pode usar diferentes fatores de classificação ou algoritmos para verticais de pesquisa, como notícias, pesquisa local, viagens ou comércio eletrônico.

Se esse for o caso, as estratégias de SEO talvez precisem se adaptar aos sinais de classificação e às intenções do usuário exclusivos de cada vertical.

Por exemplo, a otimização da pesquisa local pode se concentrar mais em fatores como listagens do Google My Business, avaliações locais e conteúdo específico do local.

O SEO para viagens pode enfatizar a coleta de avaliações, a otimização de imagens e o fornecimento direto de informações de reserva/preço em seu site.

Já o SEO de notícias requer foco em conteúdo oportuno e digno de notícia e estrutura otimizada de artigos.

Embora os princípios fundamentais da otimização de pesquisa ainda se apliquem, entender as nuances de seu vertical específico, com base nas informações vazadas e nos testes reais, pode lhe dar uma vantagem competitiva.

O que fazer agora?

Como uma agência especializada em SEO, a Experta recomenda se manter informado sobre o vazamento do Google.

Como os detalhes sobre o documento permanecem desconhecidos, não é uma boa ideia considerar qualquer conclusão acionável.

Mais importante ainda, lembre-se de que perseguir algoritmos é uma batalha perdida.

A única estratégia vencedora em SEO é fazer com que seu site seja o melhor resultado para sua mensagem e seu público. Esse é o objetivo final do Google, e é nele que seu foco deve estar, independentemente do que qualquer documento sugira!

CONFIRA TAMBÉM